9 de setembro de 2010

Remendo

E porque às vezes estamos cansados do mundo,
Apetece bater com a porta sem dizer sequer um adeus.

E já nem importa se nos dizem que há mundos piores que o nosso,
Porque o que importa é aliviar este cansaço que nos persegue.

E, às vezes, até parece que gostamos,
Que queremos estar esgotados e zangados e sempre enjoados...
Mas somos amigos deste marasmo:
Confortável, mas traidor, esse moço!

Como eu queria que tivessem feito a acção mais fácil,
Mais apetecível...
Como eu gostava de não tentar remendar a vida a escrever,
Para fazer algo por ela em vez disso...
Quiçá inventar algo que permitisse remendar a vida a escrever.

Queria ser outros mas sou eu,
Queria fazer tanto mas não faço,
Queria não andar por cá mas enfim...

Às vezes andamos cansados do mundo.

14 de julho de 2010

A cor dos dias II



Às vezes, um pequeno pormenor pode ser uma dor de cabeça.
E uma coisa importante passa-nos ao lado.
E no dia seguinte, damos conta de que fizemos as opções erradas, mas elas já passaram por nós.

Mas, afinal de contas, ninguém sabe como é suposto vivermos, para vivermos correctamente.
E, afinal de outras contas, o que é correcto, não o é para todos. 

A mim, bastava-me que todos tivéssemos uma noção de justiça e que a puséssemos em prática. 
E por vezes, também me bastava saber o que fazer para o fazer bem, mas talvez depois não tivesse aprendido com a dor de bater com a cabeça na parede. 

Eu, como todos os animais, sou um bicho estranho.

9 de julho de 2010

As cores dos dias

Há dias cinzentos e dias às cores.
E dias cinzentos que sabem a salada de frutas.
E dias coloridos que sabem a pó.

Há coisas boas que não sabem a nada,
E problemas da treta que sabem ao fim do mundo.

E no meio disto tudo, cada vez mais respeito o meu cérebro, porque ele é que tem que lidar com tudo isto e dizer-me como reagir. Ou entra em colapso, e deixa-me o corpo sozinho, o que também é um acto inteligente.

E o mundo à minha volta cada vez mais podre, e eu cada vez mais a perder capacidade de o salvar. Ou de o querer salvar.

E as pessoas cada vez mais a precisar de valores, e cada vez mais a rejeitá-los.

E eu sempre perdida nos meus pensamentos, por querer pensar muito e no final dizer pouco.

14 de maio de 2010

Estranha forma de lanche

E apetece-me escrever como quem dá uma corrida... rápida e sem destino.
Não tenho tempo para mais do que escrever a correr, ou talvez não tenha a força para mais do que escrever sem ler bem o que escrevo.
Mas apetece.
E apetece que me leiam, e apetece que me gostem.
E apetece distorcer a gramática como quem torce um pano para ver se sai mais uma gota de água.
E apetece escrever uma coisa grande e bonita como o Sol.
E doce e fresca como uma maçã.

23 de abril de 2010

Obrigada, Sra. Ministra! Obrigada mesmo!

Acabo de ouvir na TSF uma notícia que me deixa dividida: estou orgulhosa e profundamente triste ao mesmo tempo.
A nossa Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, admitiu, hoje de manhã, que tinha ideia de quantos livros eram destruídos em Portugal anualmente, mas confessou ter vergonha de falar desses números. Um jornalista atirou o número 100 000 e ela respondeu que eram muitos mais.

Ora, a Sra. Ministra enche-me de orgulho, porque não há muitos políticos no Mundo capazes de admitir que têm vergonha de alguma coisa. Mas é, de facto, vergonhoso que se destruam tantos livros no nosso país (ou em qualquer outro, já que falamos nisso) por excesso de stock ou, quiçá, pequenos defeitos que impeçam a sua venda.

E isto deixa-me triste, porque um livro é uma riqueza imensa, é uma porta para a cultura, a que todos devíamos ter direito, e mais ainda, todos deveríamos querer aceder! Será legítimo destruir livros, porque fica mais barato que os doar? Então deixem-nos ao pé de um caixote do lixo perto de mim, que eu trato de os recolher e oferecer... e não conto a ninguém de onde vieram!

Seja como for, um grande Obrigada à Sra. Ministra... um obrigada sincero! Porque é mesmo um facto vergonhoso. E porque é preciso ter uma presença de espírito, e um maior amor à cultura, para o dizer em público. E, entre os seus pares, vai provavelmente ser repreendida pelas declarações... mas, se ler este post, saiba que em Portugal ainda existe gente que quer aprender todos os dias mais um pouco, e lembrar ao Mundo que a cultura é um tesouro.

12 de março de 2010

Thank any God for sunny days















A sunny day takes the pain away. Well, at least it makes us forget any pain...
A sunny day makes you want to smile. Please wash your teeth first.
A sunny day wakes up some flowers. Take a picture and love them.
These sunny days had been missed for a while. So smile, love and forget.
Thank any God for all sunny days.

20 de fevereiro de 2010

Tratado das Coisas Não Fungíveis

E porque este blog não é só sobre mim, deixo-vos uma recomendação de leitura:


"Tratado das Coisas Não Fungíveis", de Paulo Ferreira da Cunha
Campo das Letras, 2000


Foi-me oferecido recentemente, e teve o condão de me fazer gostar de poesia novamente, como há anos não gostava. Porque me lembrou a doce dificuldade de ler um bom poema, daqueles que nos obriga a pensar. 


Enjoy!

Heróis de cabeceira - O Pastor




Na viagem da minha vida, já passeei por muitos cenários: cheirei as flores coloridas dos prados dignos de contos, tropecei entre as pedras de vales montanhosos, sempre frios, e fiquei presa em areias movediças de pântanos que só quero esquecer.

Em todos estes lugares, aprendi que pouco há que seja permanente, que nem sempre o aparente é real, e que, por muito cansada que estivesse da viagem, seria difícil algo fazer-me parar efectivamente. Cada espinho cravado nas plantas dos pés deixou cicatrizes, mas depois de saradas ficaram lá mesmo, debaixo dos pés.

Nas últimas jornadas de viagem, tenho vindo a caminhar por uma floresta, tão escura quanto densa e confusa. Os sons confundem-se com os cheiros, a vontade de parar com a de partir. Ninguém viaja verdadeiramente sozinho, mas passar pela floresta tem-me feito sentir que avançar ou recuar pode depender muito de mim, de saber que caminho quero percorrer.

Enquanto decifro as sombras escuras à minha volta, vou sentindo a dor de quem vai descalço e calca as raízes duras de uma árvore que já há muito definiu o seu território; não estou em casa. E vou-me abandonando a pensamentos mais ou menos infrutíferos, de quem muito pensa e pouco sabe como agir.

Há algum tempo, enquanto tentava perceber por onde caminhar, encontrei um pastor. Habituado, talvez, a reconhecer ovelhas desorientadas, caminhou um pouco comigo, sem fazer verdadeiramente alguma coisa. Não sei se estava consciente disso, mas apenas alguns passos bastaram para que me ajudasse, só com a sua presença. Falou-me um pouco, querendo saber o que estava eu a fazer naquele pedaço de caminho. Ele, soube-o depois, estava ali de passagem, por acaso; eu, estava só caminhando, e caminhando só, à espera que novas paisagens surgissem no horizonte. 

Não sei dizer porquê, mas este pastor fez-me pensar que talvez consiga sair em breve desta floresta escura; que sou capaz de caminhar mais um pouco, porque o cansaço da viagem não pode ser maior do que a ânsia por ver a meta. Afinal, se ele estava ali só de passagem, é porque também este cenário não é permanente. Vou somando cicatrizes, é um facto, mas também vou colhendo frutos bons desta viagem. 

E vou descobrindo que os heróis não vivem só nas histórias para adormecer; podem percorrer connosco parte do caminho. 

Eu tenho um novo herói de cabeceira, que se junta a outros de quem falarei um dia. Se esta história não tem propriamente um fim, talvez seja porque ainda não sei para onde caminho. E agradeço ao Universo que não me tenha deixado caminhar sozinha. 

10 de fevereiro de 2010

Febril, disparatando...

Hoje não fui presenteada com a melodia do grafite quando dança livremente pelo seu lago de papel.
Estou febril, como há muito não estava, como a poucos desejo;
Mas sobra-me a vontade de criar mais, 
um dia destes, 
seja o que for;
Porque ver um pensamento materializado, é como uma dor que soube bem;
Se existe, já não é meu,
mas só meu não me serve.



5 de fevereiro de 2010

Agora, de repente






Hoje, sinto-me pequenina.
Porque em tempos sonhei ser grande de alguma forma, ou pelo menos, sonhei ter alguma importância na vida das pessoas.
Hoje, constatei novamente que o caminho à minha frente é grande como o tempo, e que tudo o que já percorri talvez não signifique nada.
Hoje, continuo a querer ser alguém, mas ainda não sei bem como.

Quem serei eu amanhã?

2 de fevereiro de 2010

s/t

Tenho uma pena que escreve
E sopro um verso com ela,
De leve...
Ingenuamente,
Fogem-se-me as palavras
Em catadupa,
Pois há muito que a sintaxe não me apraz...
Há glórias perdidas por perto
Mas longe vai a vingança
De tudo o que dei por certo...
E tento correr na penumbra
Mas persegue-me a luz do ofício,
Pobre fogo de artifício
Que alguém teima em recordar...

1 de fevereiro de 2010

COMPARISON


As pedras perdem-se no percurso.
Iguais, milimétricas.
Qual linha de montagem,
Em que se mesclam os traços
Numa amálgama disforme,
Monotonia de imagem...

Tentem compará-los,
Os seixos nos leitos dos rios;
Tentem separá-las,
As folhas das árvores simbióticas.
E dêem a cada elemento um nome,
Julguem-no pela aparência,
Pela atitude...

Que eu contesto as comparações,
Os critérios de escolha naturais,
Tão artificiais como as horas...

E detenho-me na penumbra
Dos olhares;
Esqueço a crítica constante,
A simpatia distante,
Para ser eu...

Eu que me defino entre as pedras,
Dixem eles.
Eu que quero apenas... não ser.
Mas eles comandam-me,
Guiam-me os passos
Nos caminhos
Tão rectos como a vida,
E ao passo leve do vento,
Insistem lembrar-se de mim.

Press Start to begin

Life should be a game.
One where you could play and pause whenever you'd like, one where you'd have options and settings for almost every feature.
Some say you can control your life anyway you please, but the truth is, sometimes, you can't.
In my life, I'm imposed too many things.
So, here, I'll play my own game. Here, I do not care about anything else other than my passion for writing.
This is me pressing "START".

A vida deveria ser um jogo.
Um daqueles em que pudéssemos andar ou parar conforme quiséssemos, um daqueles em que tivésseos opções e configurações para quase todos os aspectos.
Alguns dizem que podemos controlar a nossa vida conforme quisermos, mas a verdade é que, às vezes, não podemos.
Na minha vida, tenho muitas imposições.
Por isso, aqui, eu jogo o meu próprio jogo. Aqui, não me importa nada além da minha paixão pela escrita.
Isto sou eu a carregar no botão para começar.