20 de fevereiro de 2010

Tratado das Coisas Não Fungíveis

E porque este blog não é só sobre mim, deixo-vos uma recomendação de leitura:


"Tratado das Coisas Não Fungíveis", de Paulo Ferreira da Cunha
Campo das Letras, 2000


Foi-me oferecido recentemente, e teve o condão de me fazer gostar de poesia novamente, como há anos não gostava. Porque me lembrou a doce dificuldade de ler um bom poema, daqueles que nos obriga a pensar. 


Enjoy!

Heróis de cabeceira - O Pastor




Na viagem da minha vida, já passeei por muitos cenários: cheirei as flores coloridas dos prados dignos de contos, tropecei entre as pedras de vales montanhosos, sempre frios, e fiquei presa em areias movediças de pântanos que só quero esquecer.

Em todos estes lugares, aprendi que pouco há que seja permanente, que nem sempre o aparente é real, e que, por muito cansada que estivesse da viagem, seria difícil algo fazer-me parar efectivamente. Cada espinho cravado nas plantas dos pés deixou cicatrizes, mas depois de saradas ficaram lá mesmo, debaixo dos pés.

Nas últimas jornadas de viagem, tenho vindo a caminhar por uma floresta, tão escura quanto densa e confusa. Os sons confundem-se com os cheiros, a vontade de parar com a de partir. Ninguém viaja verdadeiramente sozinho, mas passar pela floresta tem-me feito sentir que avançar ou recuar pode depender muito de mim, de saber que caminho quero percorrer.

Enquanto decifro as sombras escuras à minha volta, vou sentindo a dor de quem vai descalço e calca as raízes duras de uma árvore que já há muito definiu o seu território; não estou em casa. E vou-me abandonando a pensamentos mais ou menos infrutíferos, de quem muito pensa e pouco sabe como agir.

Há algum tempo, enquanto tentava perceber por onde caminhar, encontrei um pastor. Habituado, talvez, a reconhecer ovelhas desorientadas, caminhou um pouco comigo, sem fazer verdadeiramente alguma coisa. Não sei se estava consciente disso, mas apenas alguns passos bastaram para que me ajudasse, só com a sua presença. Falou-me um pouco, querendo saber o que estava eu a fazer naquele pedaço de caminho. Ele, soube-o depois, estava ali de passagem, por acaso; eu, estava só caminhando, e caminhando só, à espera que novas paisagens surgissem no horizonte. 

Não sei dizer porquê, mas este pastor fez-me pensar que talvez consiga sair em breve desta floresta escura; que sou capaz de caminhar mais um pouco, porque o cansaço da viagem não pode ser maior do que a ânsia por ver a meta. Afinal, se ele estava ali só de passagem, é porque também este cenário não é permanente. Vou somando cicatrizes, é um facto, mas também vou colhendo frutos bons desta viagem. 

E vou descobrindo que os heróis não vivem só nas histórias para adormecer; podem percorrer connosco parte do caminho. 

Eu tenho um novo herói de cabeceira, que se junta a outros de quem falarei um dia. Se esta história não tem propriamente um fim, talvez seja porque ainda não sei para onde caminho. E agradeço ao Universo que não me tenha deixado caminhar sozinha. 

10 de fevereiro de 2010

Febril, disparatando...

Hoje não fui presenteada com a melodia do grafite quando dança livremente pelo seu lago de papel.
Estou febril, como há muito não estava, como a poucos desejo;
Mas sobra-me a vontade de criar mais, 
um dia destes, 
seja o que for;
Porque ver um pensamento materializado, é como uma dor que soube bem;
Se existe, já não é meu,
mas só meu não me serve.



5 de fevereiro de 2010

Agora, de repente






Hoje, sinto-me pequenina.
Porque em tempos sonhei ser grande de alguma forma, ou pelo menos, sonhei ter alguma importância na vida das pessoas.
Hoje, constatei novamente que o caminho à minha frente é grande como o tempo, e que tudo o que já percorri talvez não signifique nada.
Hoje, continuo a querer ser alguém, mas ainda não sei bem como.

Quem serei eu amanhã?

2 de fevereiro de 2010

s/t

Tenho uma pena que escreve
E sopro um verso com ela,
De leve...
Ingenuamente,
Fogem-se-me as palavras
Em catadupa,
Pois há muito que a sintaxe não me apraz...
Há glórias perdidas por perto
Mas longe vai a vingança
De tudo o que dei por certo...
E tento correr na penumbra
Mas persegue-me a luz do ofício,
Pobre fogo de artifício
Que alguém teima em recordar...

1 de fevereiro de 2010

COMPARISON


As pedras perdem-se no percurso.
Iguais, milimétricas.
Qual linha de montagem,
Em que se mesclam os traços
Numa amálgama disforme,
Monotonia de imagem...

Tentem compará-los,
Os seixos nos leitos dos rios;
Tentem separá-las,
As folhas das árvores simbióticas.
E dêem a cada elemento um nome,
Julguem-no pela aparência,
Pela atitude...

Que eu contesto as comparações,
Os critérios de escolha naturais,
Tão artificiais como as horas...

E detenho-me na penumbra
Dos olhares;
Esqueço a crítica constante,
A simpatia distante,
Para ser eu...

Eu que me defino entre as pedras,
Dixem eles.
Eu que quero apenas... não ser.
Mas eles comandam-me,
Guiam-me os passos
Nos caminhos
Tão rectos como a vida,
E ao passo leve do vento,
Insistem lembrar-se de mim.

Press Start to begin

Life should be a game.
One where you could play and pause whenever you'd like, one where you'd have options and settings for almost every feature.
Some say you can control your life anyway you please, but the truth is, sometimes, you can't.
In my life, I'm imposed too many things.
So, here, I'll play my own game. Here, I do not care about anything else other than my passion for writing.
This is me pressing "START".

A vida deveria ser um jogo.
Um daqueles em que pudéssemos andar ou parar conforme quiséssemos, um daqueles em que tivésseos opções e configurações para quase todos os aspectos.
Alguns dizem que podemos controlar a nossa vida conforme quisermos, mas a verdade é que, às vezes, não podemos.
Na minha vida, tenho muitas imposições.
Por isso, aqui, eu jogo o meu próprio jogo. Aqui, não me importa nada além da minha paixão pela escrita.
Isto sou eu a carregar no botão para começar.